Logo - 2ª Câmara de Conciliação e Arbitragem

Entrevista concedida ao Jornal Opção pelos presidentes do SecoviGoiás, Ioav Blanche, e da Fecomércio-GO, Marcelo Baiocchi

13 Jul 2020
Fonte: Secovi Goiás

Entrevista concedida ao Jornal Opção pelos presidentes do SecoviGoiás, Ioav Blanche, e da Fecomércio-GO, Marcelo Baiocchi

O Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis e dos Condomínios Horizontais, Verticais e de Edifícios Residenciais e Comerciais no Estado de Goiás (Secovi Goiás), ou apenas Sindicato da Habitação do Estado de Goiás, completou 40 anos de existência no dia 12 de junho. Com atuação na defesa do mercado imobiliário e de condomínios, a entidade cresceu em tamanho, em espaço físico, oferta de serviços e número de associados.
Na entrevista concedida ao Jornal Opção, o presidente do Secovi Goiás, Ioav Blanche, e o presidente da Federação do Comércio do Estado de Goiás (Fecomércio-GO), Marcelo Baiocchi, falam sobre as mudanças do sindicato desde 1980, as conquistas, dificuldades e os desafios do mercado da habitação, das imobiliárias e condomínios, diante da crise econômica e da pandemia da Covid-19.
 
O que fez o Secovi Goiás conseguir chegar aos 40 anos de existência em um cenário de fim da contribuição sindical obrigatória?
Marcelo Baiocchi –
O Secovi é um sindicato que representa o mercado da habitação, que denominamos condomínios e imobiliárias. Os 40 anos de existência foram iniciados com Elias Bufáiçal, foi o primeiro presidente do sindicato. Elias foi sucedido pelo Osmar Elias Machado. E eu sucedi o Osmar. Há 25 anos, assumi o Secovi por duas gestões. Mauricio Rezende de Almeida Pontes ficou outras duas gestões. Fiquei mais duas gestões e hoje Ioav Blanche está em sua segunda gestão.
O Secovi é um sindicato que busca trabalhar na defesa dos interesses dos seus associados. Temos uma representatividade grande. Na área imobiliária, são vários segmentos: compra e venda, locação, empreendedor de loteamento, incorporador de loteamento, lançamentos. Em um mesmo negócio, divide-se em vários ramos.
A mesma coisa ocorre com os condomínios. Tem condomínio que é shopping, flat, residencial vertical e horizontal e todos outros tipos de condomínio que se agrupam nesse setor. Ao longo destes anos, o Secovi tem exercido um papel de defesa do segmento, mas sempre prezou por três pilares. Só conseguimos defender o que legal, moral e ético. Felizmente não conseguimos defender o que não segue essa tríade.
Brincamos que só podemos defender o que está dentro desse escopo. Porque se sairmos desse escopo, deixamos de defender a categoria, passaríamos a defender interesses pessoais. Sem a contribuição sindical, que era obrigatória, o Secovi continuou um sindicato forte, com a prestação dos mesmo serviços. Foram justamente os serviços que mantiveram as despesas do Secovi e conseguiram fazer com que o sindicato não precisasse diminuir os serviços prestados.
Ioav Blanche – O Secovi cuida de duas categorias: do empresário da área imobiliária e do síndico de condomínio. Mas como essas duas coisas andam juntas? A nossa arte é conseguir manter empresários e síndicos em um único sindicato com um atendimento excepcional. Esta visão empresarial do mercado imobiliário é diferenciada, porque é estratégica.
Para atuar no mercado imobiliário, é preciso ter visão estratégica de longo prazo. O negócio imobiliário de loteamento demora de cinco a dez anos para se implementar e outros 20 anos, há empreendimentos com até 30 anos de carteira. Se não tiver uma visão estratégica de longo prazo, o empresário fica pelo caminho.
Muitos curiosos, donos de lotes, entram no ramo de loteamento com uma ideia de que é algo fácil. Coitado! Pode ficar sem fazenda, sem lote, sem propriedade. É uma profissão como toda e qualquer outra, que exige muita especialização, muito conhecimento, muito investimento. O investidor imobiliário é uma pessoa que está acostumada com o pensamento de longo prazo.
A decisão estratégica que modificou o Secovi ocorreu há 24 anos. Marcelo Baiocchi estava em sua primeira gestão e o falecido desembargador Vítor Lenza comprou a ideia de criar Cortes de Conciliação no Estado de Goiás. Era algo que não existia no Brasil. Marcelo comprou a ideia junto com Lenza. Era um sindicato pequeno na época, com duas salas no Palácio do Comércio, no Centro.
Com acordo do desembargador Vítor Lenza, foi implantada a 2ª Corte de Conciliação do Estado de Goiás. A primeira é da Acieg [Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás] e a segunda do Secovi. À época, tivemos a felicidade de ter o irmão do Lenza, dr. Renato Barboza Lenza, participar do projeto. Renato Lenza comprou a ideia com o Marcelo e foi de imobiliária em imobiliária, de condomínio em condomínio, para explicar o que era a conciliação.
A Câmara de Conciliação do Secovi foi inaugurada no dia 24 de junho de 1996. A lei é de setembro de 1996. Nossa Corte de Conciliação é mais antiga do que a própria legislação, criada pelo então senador Marco Maciel. Como sabíamos que a lei seria criada, saímos na frente e instituímos a Câmara de Conciliação. Foi a época em que eu entrei no sindicato, quando o trabalho do Baiocchi começou a transformação do Secovi.
Em pouco tempo, saímos de duas salas para cinco salas no Palácio do Comércio. O sindicato começou a crescer, começou a trazer gente que viu que a entidade funcionava. Conseguíamos execução de sentença via oficial de Justiça pelo convênio que tínhamos com o Tribunal de Justiça. Era possível que um juiz decidisse em cima de uma sentença arbitral.
Outras entidades conseguiram ter Câmaras de Conciliação bastante fortes, como a do Conselho Regional dos Corretores de Imóveis (Creci-GO), da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA). Mas na área imobiliária, foi onde a Corte mais se desenvolveu. Tanto que as duas maiores existentes hoje são a do Creci e do Secovi.
Quando o sindicato resolveu criar o Secovicred?
Ioav Blanche
– Foi a decisão estratégica de 24 anos atrás que permitiu ao Secovi se diferenciar de outros sindicatos. Motivamos pela Engecred, percebemos que o sistema de cooperativa financeira era algo muito bom. Chamamos os empresários do setor em 2006 começamos, com R$ 212 mil, a cooperativa (Sicoob Secovicred) com uma agência. O início foi realmente uma ação entre os diretores do sindicato.
Hoje são mais de 16 mil cooperados, 13 agências, R$ 700 milhões em ativos. Tornou-se um negócio muito maior do que o próprio sindicato. Até hoje o nome Secovicred é mantido porque vem da origem do grupo de empresários. Como administramos várias carteiras, passamos as carteiras para o banco, que foi o que alavancou a cooperativa e permitiu o crescimento do banco.
Foi uma forma de alavancar as ações do sindicato. Ajudou muito a melhorar o ambiente da habitação no Estado a contribuição que o banco fez. Ajudou também as empresas e condomínios, porque temos um tratamento exclusivo para condomínios. 50% dos condomínios de Goiânia e Aparecida de Goiânia são cooperados do Secovicred. Isso gera uma sinergia muito grande.
O que mudou na atuação do Secovi a partir da criação da cooperativa de crédito?
Marcelo Baiocchi – Apesar de a cooperativa de crédito ter nascido muito pequena, cresceu e hoje é uma das maiores em Goiás. Nossos segmentos, sejam os condomínios ou imobiliárias, são fomentados com recursos para investimento. Todos prédios necessitam de recursos. Depois da cooperativa de crédito, os condomínios passaram a ter o que nunca tiveram nos bancos, que é linha de crédito.
Os condomínios que nunca experimentaram um empréstimo passaram a utilizar para reforma, retrofit (modernização de equipamentos), troca de elevadores sem precisar fazer chamadas de taxa de condomínio. Puderam passar a contrair empréstimo, parcelar em 60 meses, que fica diluído no custo do condomínio.
A cooperativa de crédito foi um serviço aglutinador que agregou mais ao Secovi. Apesar de CNPJs diferentes e diretorias distintas, são entidades que andam juntas. Uma agregou à outra no início, o Secovi foi realmente quem viabilizou a Secovicred. Hoje a Secovicred tem um porte razoável e dá todo suporte para o Secovi agregar nos seus associados no sindicato.
Qual é o total de associados que o Secovi tem hoje?
Marcelo Baiocchi –
Na cooperativa, são 16 mil cooperados.
Ioav Blanche – O Secovi tem de 1,5 mil a 2 mil associados.
Em 2018, Baiocchi disse ao Jornal Opção que o mercado imobiliário voltava a reaquecer. Como estava o setor, tanto de imobiliárias quanto de condomínios, no período anterior à pandemia da Covid-19?
Ioav Blanche –
O mercado imobiliário atravessava a pior crise da sua história. Era uma crise que nos preocupava muito porque até 2012 estávamos na maior euforia. Depois que tomamos toda a cachaça, a ressaca é muto ruim. Estávamos com quatro anos de ressaca, pagando contas na espera de o mercado melhorar.
O mercado condominial tinha vários condomínios novos, com várias pessoas que se mudaram, a legislação mudava toda hora. O trabalho do Secovi foi de trazer esse pessoal para o sindicato e acompanhar a evolução do mercado. Estávamos muito preocupados com o setor imobiliário.
Trabalhamos para levar informação, porque vivemos uma época de transformação digital. Agora essa mudança foi intensificada. Até a entrevista é feita com uma reunião virtual. Era uma transformação que estava em curso, de forma mais lenta em alguns segmentos e mais rápida em outros.
Intensificamos muito os cursos. Criamos o SOS Síndico. Depois a queda de um prédio próximo ao Teatro Nacional, no Rio, começaram a surgir inúmeras leis que responsabilizavam o síndico pelas reformas. Foi quando o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) começou a querer fiscalizar prédio. Tudo isso exigiu do Secovi uma presença muito grande.
Secovi tem uma característica que é própria do goiano. A gente consegue andar junto. Não só os síndicos, não só o mercado imobiliário, mas o Secovi consegue andar junto com o Sinduscon-GO [Sindicato da Indústria da Construção no Estado de Goiás], com o Sindimoveis-GO [Sindicato do Corretores de Imóveis no Estado de Goiás], com o Creci-GO, com o Crea-GO.
Participamos de conselhos de meio ambiente e da cidade. Participamos ativamente do dia a dia das discussões. Nossa capacidade de diálogo é muito grande. Por exemplo, se surgir um problema dos síndicos com o Crea-GO, entramos em contato com o presidente do Crea-GO, Francisco Almeida, e discutimos a situação.
Às vezes um problema de fiscalização pode ser solucionado com um manual conjunto que oriente a regularização da situação. Foi assim que Secovi e Crea-GO criaram juntos um manual para informar aos síndicos o que o condomínio pode ou não fazer. Buscamos o diálogo e a orientação das pessoas.
Em maio, o presidente do Conselho Regional de Educação Física de Goiás e Tocantins (Cref-14) relatou alguns problemas com academias de condomínios. Fizemos um manual eletrônico para informar o que é permitido e proibido nesses espaços, quais são os perigos da contratação de um personal que não esteja habilitado e não seja registrado no conselho.
São ações que estão previstas no SOS Síndico?
Ioav Blanche –
O SOS Síndico inclui todas essas ações. Na época em que podia ter a presença do síndico no sindicato, chegamos a fazer uma espécie de Vapt Vupt. Chamamos o Corpo de Bombeiros, a Prefeitura de Goiânia, o Crea-GO, a Saneago. Em dois dias, o síndico tinha a resposta das dúvidas. A ação de unir as entidades civis e públicas é muito importante.
Há um canal aberto mais rápido quando há um contato direto com a corporação, como no caso dos bombeiros, para solucionar os problemas dos condomínios. Tudo isso facilita muito a nossa vida, tem ajudado muito o crescimento do Secovi e melhora a oferta de atendimentos para os síndicos e imobiliárias.
Em quais cidades goianas o Secovi está presente?
Ioav Blanche –
A força do Secovi é na Região Metropolitana de Goiânia. É onde está concentrada a maior parte dos condomínios e imobiliárias. Chegamos a ter delegacias em Anápolis e Caldas Novas. Mas com o fim da contribuição sindical obrigatória, precisamos cortar custos. Hoje atendemos essas cidades a partir de Goiânia.
Realizamos as convenções coletivas de Caldas Novas, Rio Verde e Itumbiara. O Secovi chegou a assinar 11 convenções coletivas por ano. Um sindicato patronal para 11 laborais. Hoje o número de sindicatos laborais já foi reduzido para oito ou nove. Em alguns dos sindicatos, temos dificuldade de encontrar o presidente, porque a porta fechou.
Em decorrência do fim da contribuição sindical obrigatória?
Ioav Blanche –
O fim da contribuição obrigatória significou para os sindicatos laborais que não tinham relevância para os seus associados um cenário de muita dificuldade. São entidades que tentam se reinventar.
Apesar da importância que foi dada à convenção coletiva, que hoje o negociado pode valer mais do que o legislado, o funcionário na ponta muitas vezes não sabe da importância que o sindicato pode ter. Por isso, muitos, ou quase todos, deixam de contribuir de forma espontânea.
No lado dos sindicatos patronais, aqueles que não estão bem estruturados recebem ajuda dos presidentes da federação ao qual o segmento está ligado ajudam a manter.
A partir do momento em que Goiás confirmou os primeiros casos, o governo estadual adotou medidas restritiva às atividades econômicas. Os shoppings e galerias só reabriram na terça-feira, 23. Como o Secovi atuou neste intervalo? Qual foi o impacto do fechamento e da tentativa de adequação para reabertura?
Ioav Blanche –
O Secovi ficou muito preocupado com o fechamento das imobiliárias. A imobiliária é uma gestora de patrimônio, igual a um banco. Alguns clientes de locação ficavam sem saber o que fazer, principalmente de locação comercial, na tentativa de renegociar contrato e postergar. E estávamos sem condições de atendê-los.
Fizemos a orientação das imobiliárias de como deveriam trabalhar, como deveria ser feita a atividade de casa. Teve uma movimentação fantástica. O mercado empresarial mostrou maturidade e força. Conseguimos transferir grande parte dos serviços para home office.
Mesmo assim, muitos empresários nos procuraram para dizer que clientes com idade mais avançada queria ser atendido na imobiliária para receber o aluguel. A pessoa que aluga a lojinha está preocupada. De 10% a 15% dos clientes não queriam ser atendidos por meios digitais ou por telefone.
Primeiro começamos a fazer um trabalho junto ao governo do Estado. Goiás tem esta característica de você ligar para a pessoa e ela atender. Conversávamos com o secretário-geral da Governadoria, Adriano da Rocha Lima, sobre a importância do funcionamento, mandamos ofícios com Creci-GO e Sindimoveis-GO para pedir a permissão para o trabalho das imobiliárias e justificamos a importância.
Nos perguntavam por que as imobiliárias não estavam liberadas. Tivemos companheiros que foram autuados. Continuamos nessa briga até ver que não era mais possível dialogar, quando foi preciso judicializar. A pressão estava muito grande para pelo menos ter um trabalho de atendimento.
Não que quiséssemos voltar ao que era. Ninguém pensa hoje em fazer um lançamento, colocar vários corretores em um salão e colocar a saúde das pessoas em risco. Sabemos que a situação mudou. Mas queremos atender aquela pessoa que não sabe nem o que é uma assinatura eletrônica, não querem saber de DOC, TED ou boleto bancário. É uma minoria, mas tem de ser atendida.
Quando se discute a situação do fechamento, as pessoas só pensam em shoppings e grandes empresas. Mas a maior parte das locações, cerca de 80%, a pessoa tem um ou dois imóveis. Aquilo é o complemento da renda da aposentadoria do proprietário. A pressão em cima das imobiliárias foi muito grande. Tivemos de estar junto e fazer de tudo para que pudéssemos trabalhar.
Enquanto não houve a permissão para trabalhar, primeiro do Estado e depois da prefeitura, toda a estrutura, aparato técnico, jurídico de negociação do Secovi e a força da Federação do Comércio foi utilizado para que as imobiliárias pudessem trabalhar.
O sr. citou que não são todos os clientes que estão prontos para a lógica do recebimento ou pagamento digital, alguns clientes ainda buscavam a imobiliária de forma presencial. Como foi lidar com as dificuldades de pagamentos e recebimentos durante o período de medidas restritivas?
Ioav Blanche –
Negociando, negociando, negociando. Essa é a nossa função. Essa é a nossa especialidade. Em um momento como agora, os agentes do mercado imobiliário têm de estar disponíveis. Aumentamos nossa carga de trabalho para tentar explicar para as pessoas e orientá-las. Além da situação do trabalho em casa e a dúvida se reabre ou não, vereadores e deputados começaram a tentar criar leis para fazer graça com o chapéu alheio.
Até hoje surgem projetos de lei que tentam prorrogar o pagamento das contas. Calma, gente! Não podemos virar para todo o País e dizer que não precisa mais pagar energia, água, aluguel. Claro que sabemos que tem exceções, como pessoas que tiveram suas rendas afetadas. Para isso, precisamos negociar e postergar pagamentos.
Orientamos as imobiliárias. Mas precisávamos cuidar para o mercado não entrar em colapso. Se aprovassem no Congresso projetos como o do senador Antonio Anastasia (PSD-MG), que postergava os pagamentos até outubro, quanta gente iria quebrar? Tivemos, através do senador Vanderlan Cardoso (PSD), reuniões para explicar o que o mercado precisava.
Tivemos mais de uma reunião com deputados estaduais, com vereadores, para explicar que o mercado passava por ajustes. Falávamos aos nossos locadores que não adianta matar a galinha. A depender do prédio comercial, se a imobiliária receber o imóvel de volta, o local ficará seis meses a um ano sem alugar, com despesas de IPTU e manutenção.
É hora de negociar. Se a pessoa não consegue pagar 100%, é preciso verificar a possibilidade de pagar 30% por 60 dias e depois renegocia o restante. Cabe ao sindicato atuar junto às imobiliárias e condomínios para passar informação e defender o funcionamento do mercado.
Qual foi o impacto da inadimplência até aqui?
Ioav Blanche –
Ainda é difícil ter dados concretos da situação. Porque não teve só inadimplência. Houve muita postergação de contratos. Muitos compromissos de compra e venda foram afetados pelo momento de perda da capacidade de pagar. Algumas parcelas foram jogadas para o final do contrato. Prestações foram divididas para dar condições de pagamento até, por exemplo, o final de outubro.
O setor tem passado por muita negociação. Houve também a devolução de empresas. Quem mais tem sofrido com esta crise, que só veremos quando vier a reabertura total – que Deus sabe quando será -, quem vamos sentir mais falta são dos botecos.
São os que ficarão mais tempo fechados?
Ioav Blanche –
Já quebraram. Em alguns bares, a placa de “aluga-se” já foi colocada no imóvel. Botecos que existiram por anos e anos. Centenas de bares e restaurantes já se foram. Para começar a rodar, com a abertura de novos negócios, vai demorar. O mercado que mais sentirá e que mais nos preocupa hoje como locadores são os bares e restaurantes.
Durante o governo do ex-presidente Michel Temer, houve certo reaquecimento do mercado imobiliário e de construção. Como está a compra e venda de imóveis hoje?
Ioav Blanche –
Bastante ativo. O mercado imobiliário reagiu muito bem à baixa da taxa de juros. Tem muita gente comprando imóvel para investimento e locação. Principalmente locação residencial.
O mercado imobiliário já vivia um momento de renascimento depois de um longo e tenebroso inverno. O Sol começava a sair. Em março, acreditávamos que daria muita trovoada e o mercado imobiliário iria despencar. Em determinados segmentos, continua de vento em popa.
Quais seriam os segmentos nos quais o mercado imobiliário tem ido bem?
Ioav Blanche –
Loteamentos, incorporações em determinados padrões. Casas em condomínios foi algo que deu uma disparada durante a pandemia. Muita gente quer sair de apartamento para morar em condomínio horizontal. O mercado imobiliário não sentiu a crise.
Pelo contrário. Para nós, a queda da taxa de juros provocada pela crise do coronavírus, que ajudou a baixar ainda mais, fez com que os investidores voltassem para o mercado imobiliário com muito apetite.
Como o Secovi tem trabalho a retomada das atividades junto aos associados, principalmente após a liberação da entrada de clientes nas lojas e o funcionamento de galerias e shoppings em Goiânia?
Ioav Blanche –
Não esperamos que as coisas voltem a ser como antes. Nossa orientação é trabalhar com responsabilidade nas imobiliárias, nos condomínios, nas lojas de shoppings. Vemos tecnicamente o que é o correto e orientamos a adoção das medidas. Em todas as nossas comunicações, mesmo quando defendemos a abertura – Marcelo Baiocchi tem sido muito insistente nisso -, pontuamos que queremos trabalhar, mas sabemos da responsabilidade que devemos ter. Já temos 27 mil ações trabalhistas em decorrência da Covid-19. A minha preocupação como empresário hoje começa no momento em que o funcionário sai de casa para trabalhar.
27 mil ações trabalhistas no Estado?
Ioav Blanche –
No Brasil. Quando a pessoa é infectada pelo vírus, onde ocorreu o contágio? Se a pessoa estiver a caminho do trabalho, isso pode motivar uma ação trabalhista. Aumenta a preocupação do empresário com seus funcionários e clientes. É preciso ter essa responsabilidade. Se fechar de novo – é bem provável que isso ocorra em algum momento -, será porque não trabalhamos direito.
Temos orientado. A responsabilidade dos shoppings que abriram é muito grande. Tem muita coisa que vemos que precisam de cuidados, a limpeza dos aparelhos de ar condicionado, a atenção ao uso dos produtos de limpeza que são utilizados, a forma de se limpar um banheiro. Tudo isso passou a ser responsabilidade do empresário. Temos consciência disso, mas insistimos que precisamos trabalhar.
Como é trabalhar com setores que vivem momentos diferentes, alguns com mais liberações no funcionamento e outros com mais restrições às atividades? Como é lidar com a frustração de quem vê a loja do lado aberta, mas não pode funcionar?
Marcelo Baiocchi –
É difícil. A pergunta que sempre faço quando estou nestas reuniões, como na quinta-feira, 25, com promotores de Justiça, para discutir a reabertura do comércio é: e se nós ficássemos três meses sem ganhar dinheiro, como nós estaríamos? É a forma mais fácil de expor o sentimentos que estes empresários têm hoje.
Na sexta-feira, 26, parte dos empresários completaram cem dias sem faturar, mas com as mesmas obrigações, principalmente bares e restaurantes. Obrigações como aluguel, que não é barato, funcionários, cozinha, garçom e fornecedores. Geralmente são profissionais qualificados.
Comparado com um servente, que na construção civil é o profissional menos qualificado, é muito mais rápido colocar alguém na obra para virar servente do que contratar alguém para ser maître em um restaurante, para ser um chefe de cozinha, que talvez chega a estudar o mesmo tempo que advogado, engenheiro civil ou médico.
Há uma frustração muito grande desses empresários. Muitos já quebraram. Do comércio que voltou na terça-feira, 10% não reabriu as portas. Só na região da Rua 44, fala-se em 1,6 mil lojas fechadas, o que representam o desemprego de mais de 12 mil pessoas. No setor de bares e restaurantes, a expectativa é a de que 30% não volte a funcionar.
Desemprego crescente. Estou curioso para ver o Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados] de maio. Podemos chegar a 15 mil no saldo do desemprego. Em abril, ficou em 12 mil, com 32 mil desempregados e 20 mil contratações. Se não reabrir, outros tantos serão demitidos quando terminar a efetividade da Medida Provisória 936, que permite a suspensão de contrato.
Existe algum empresário que está com medo de reabrir por questão de segurança sanitária?
Marcelo Baiocchi –
Não. Os empresários têm preferido morrer na pandemia do que morrer de fome. Todo empresário que conversamos diz que prefere morrer da doença do que ficar em casa e morrer de fome. Não estão com medo de abrir por causa da pandemia. Mas cumprirão todas as medidas exigidas. Pode entrar em um shopping que verá tudo sendo cumprido. Pode ir à Rua 44 que você verá todas as medidas sendo cumpridas. Nenhum empresário deixará de cumprir uma medida que é exigida.
As medidas adotadas pelo governo federal de socorro a empregadores e empregados ajudaram: auxílio emergencial, suspensão de contratos e linhas de crédito? Os empresários conseguiram ter acesso às linhas de crédito do governo?
Marcelo Baiocchi –
O benefício da suspensão de contrato foi muito usual. Muitas empresas adotaram para não demitir. Demissão custa caro. Contratação e treinamento também. Os 60 dias terminaram no dia 20 de junho.
O único crédito que vemos facilidade de contratação é o Pronampe [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte], que acabou de ser lançado. Até agora, as outras linhas de crédito não tiveram aderência nem facilidade de contratação.
As primeiras linhas de crédito viriam com facilitação do Banco Central, mas a taxa de juros reduzida não foi ofertada pelos bancos privados.
Marcelo Baiocchi –
A maior dificuldade é a cadastral. Por força de lei, os bancos precisam, para a contratação do crédito, avaliar o risco do cliente senão o Banco Central vai em cima da instituição financeira. Não houve flexibilização do Banco Central para isso.
Um empresário que está há 60 ou 90 dias sem faturamento certamente não terá o cadastro regular para contratação de empréstimo. A maior dificuldade não foi nem taxa, mas a questão cadastral.
Como o Secovi precisará atuar para repensar o mercado imobiliário e a questão financeira dos condomínios de olho em um momento de redução dos novos casos diários da Covid-19?
Marcelo Baiocchi –
O Sicoob Secovicred não deixou de atuar durante a pandemia. Estamos em processo de repactuação com grande parte dos nosso cooperados que tenham operações de maior vulto, consequentemente maior risco, e que sofreram maior impacto com a crise. Nem por isso deixamos de oferecer crédito novo. Sempre preceituamos pela segurança da operação, que é o que temos conseguido manter.
Passada a pandeia – quando isso ocorrer -, queremos que haja mais crédito para que os segmentos condominial e imobiliário voltem a ter um crédito, pelo menos do Sicoob, com mais facilidade.
Ioav Blanche – Na área de condomínio, a pessoa acaba por ter de pagar sua moradia. Aumenta um pouco a inadimplência, mas depois volta. Temos a 2ª Corte de Conciliação, que atua na repactuação. As imobiliárias têm função de intermediação. Como o mercado se ativou com a baixa dos juros, não há esse problema. As imobiliárias têm conseguido manter suas atividades.
Goiás sentirá um pouco menos do que o restante do País, porque a agropecuária está em uma fase fantástica. A soja é vendida a R$ 86 a saca, a arroba do boi chegou a R$ 220 na quinta-feira, 25. Deus ajudou os goianos. A recessão que esperamos para o Brasil em 2020, chegará com menor intensidade em Goiás.
Precisamos focar em investimentos na saúde e trabalhar com responsabilidade. É isso que nosso sindicato defende. É isso que nossa federação defende. Trabalhar com responsabilidade, mas trabalhar para que a economia não caia tanto, para que o endividamento público não exploda. Tudo isso pode dificultar a retomada em 2021.
Espero que até março ou abril do ano que vem tenhamos uma vacina que nos dê tranquilidade. Até lá será este vai e volta com insegurança. Paciência! Não fomos nós que quisemos o vírus ou não. O coronavírus veio, está aí e tem causado várias milhares de mortes. Temos que buscar formas de nos adaptar a como viver diferente e acompanhar os impactos que isso vai gerar na sociedade.
A Câmara começa a discutir nesta semana a PEC 18/2020, que prevê o adiamento das eleições municipais para novembro. Como os srs. veem a proximidade de uma campanha eleitoral durante uma pandemia: é o momento de se realizar as eleições?
Marcelo Baiocchi –
As eleições municipais já estão comprometidas em função da pandemia. Imagine um político em sua campanha sem poder fazer reuniões, gerar aglomerações, sem pegar na mão do povo, todo mundo de máscara sem ver a cara do candidato. Será um momento muito difícil na política, que já está impactada pela Covid-19.
As eleições acabarão por privilegias aqueles que são detentores de mandatos porque já têm seu público fiel, seus eleitores, com os quais se relacionam há quatro anos. São eleições que mudarão um pouco as expectativas de todos.
Com relação à mudança de data, com a votação em novembro ou dezembro, é algo necessário para que possamos passar esse momento de maior crise causada pela pandemia e deixemos para depois a discussão das eleições.
A articulação de prefeitos chegou a defender junto ao Congresso a prorrogação dos mandatos de prefeitos e vereadores até 2022, o que unificaria as eleições municipais, estaduais e a nacional. É algo que os srs. defendem?
Marcelo Baiocchi –
É o anseio de uma parte dos políticos as eleições gerais, com todos os votos em um único ano. Os políticos precisam fazer campanha de dois em dois anos. É um ano de descanso e outro em campanha. Outra parte prefere que as eleições municipais sejam mantidas em 2020. Até porque um deputado pode disputar uma eleição de prefeito.
Na minha opinião, eleições gerais a cada quatro anos economizariam muito para o País. A cada dois anos temos eleição. E a cada dois anos é uma empresa que é montada, chamada eleições, funciona de 120 a 150 dias, com os 30 dias antes e depois da campanha, e depois fecha as portas. Isso tem um custo que quem acaba por pagar é a população.
 
.

Compartilhe :
Como podemos te ajudar?